
urante a quarentena, encontrei algum tempo livre para colocar em dia alguns jogos bastante longos que eu havia deixado passar devido à minha rotina usual, e um deles foi o ambicioso The Outer Worlds, lançado no final do ano passado, e que ganhou, na última sexta-feira, 5, uma versão para Nintendo Switch. RPG de temática sci-fi e gráficos maravilhosos, o game chamou a atenção da crítica e do público também por seu enredo bem-humorado, algo bastante raro quando estamos falando de histórias complexas e imersivas, que coloca o jogador à frente de uma trama complexa envolvendo corporações. Se normalmente estamos acostumados com histórias heroicas, em The Outer Worlds o verdadeiro beneficiado é quem tem menos compasso moral.

Na galáxia de The Outer Worlds, as leis antitruste nunca foram aprovadas na Terra durante o século 20 – como em nossa realidade –, e por isso parte do universo foi colonizado por um conglomerado de dez corporações que formam a Bonança, uma empresa privada que tomou o lugar da política tradicional. A história começa quando uma nave-colônia chamada Esperança, que se acreditava estar perdida há muito tempo, é invadida por Phineas Welles, o arquétipo perfeito do cientista maluco, cujo plano é acordar você, jogador, para integrar uma trama que pretende virar o universo de ponta cabeça, e derrubar a empresa “multiplanetária” no meio do caminho.
No início tudo é muito nebuloso, e o jogador principal não consegue entender porque foi o único colono tirado do estado de criogênese da Esperança por Phineas. Logo fica claro que o cientista é um fugitivo procurado por agentes da Bonança pelo crime de traição. Pego no fogo cruzado, você assume o comando da Falível, a nave de um certo capitão Alex Hawthorne, morto em circunstâncias estranhas no planeta Monarca.
“Peguei a Falível e me mandei antes que eu mudasse de ideia e metesse umas balas na cara da velha traiçoeira”
A introdução em Monarca dá tom do que está por vir durante todo o decorrer de The Outer Worlds. O primeiro conflito que você enfrenta envolve uma usina geotérmica que sustenta a energia do Vale Esmeralda, uma região de operários do planeta. Uma revolucionária chamada Adelaide tem planos de sobrepujar o poder do conselho da Bonança em Monarca, enquanto um burocrata chamado Reed quer sua ajuda para manter o poder por lá.
Salvar uma cidade inteira ou ajudar revolucionários contra a desigualdade social? Não foi difícil escolher. Acreditando na benevolência de Adelaide, decidi auxiliá-la. Só não contava com a reviravolta Orwelliana – e de praticamente todas os levantes sociais – que me aguardava. Quando tomou o poder, Adelaide passou a decidir quem viveria e morreria no Vale Esmeralda sob seu comando. No ínterim, adquiri dois companheiros para meu grupo, a mecânica de naves Parvati e o ex-presidiário e agora pastor Vigário Max, que me acompanhariam até o fim pela galáxia. Peguei a Falível e me mandei antes que eu mudasse de ideia e metesse umas balas na cara da velha traiçoeira.
Só que daí em diante, tudo o que eu encontrei nos outros planetas que visitei foi a pura trairagem. Sem muito compasso moral, fui resolvendo partes da história que ajudavam Phineas em seu plano maluco de derrubar a Bonança, ao mesmo tempo em que fiquei ao lado da corporação na caça ao cientista, no melhor estilo agente duplo; um movimento que me permitia entender os dois lados do conflito.