samba começou na casa de uma mulher negra, Tia Ciata, entre o final do século 19 e início do 20. Era uma mulher forte, trabalhadora e que carregava consigo as tradições africanas. Sabe-se que no quintal de sua casa foi criada a letra da música “Pelo Telefone”, de autoria de Donga e Mauro de Almeida. De lá para cá, o ritmo cresceu e se tornou o símbolo do Brasil. Já as mulheres sambistas perderam o protagonismo por conta do machismo enraizado na sociedade.
Porém, a visibilidade feminina está sendo retomada com grandes nomes da música popular. Um deles é Teresa Cristina, que começou sua vida artística em 1997, quando homenageou Candeia no Bar Semente, no Rio de Janeiro. Nesse momento, ela estava cursando Letras na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), onde participou do movimento estudantil. Porém, sua carreira passou a crescer rapidamente: lançou álbuns, fez turnês mundiais e foi responsável pela abertura dos shows de Caetano Veloso.
No entanto, foi na pandemia que seu nome ecoou. Isso porque ela usou a ferramenta de lives, no Instagram e no Youtube, para se conectar com o público e mostrar seu trabalho. Elas aconteceram todos os dias ao longo de um ano – foram mais de 900 horas ao vivo. Teresa ficou conhecida como a “Rainha das Lives”. O sucesso foi tanto que a sequência de exibições rendeu à cantora sua primeira indicação ao Prêmio MTV MIAW 2020, na categoria “Live Pra Tudo”.
“Foi uma conquista porque é um contato direto com meu público e com quem não conhecia meu trabalho. Essa experiência foi importantíssima e se tornou algo que não abro mão”, afirma à Elástica. “Acho importante poder ouvir as pessoas e saber a opinião delas sobre o que estou produzindo.” No ao vivo, ela contava histórias de sua vida, cantava e recebia convidados especiais, como Gilberto Gil, Gal Costa, Simone e João Bosco.
Além disso, comentava a dificuldade de conseguir patrocínio – talvez por conta do número de seguidores ou pelo racismo e machismo estruturais que dificultam o crescimento econômico das mulheres negras. “Só entendo o que acontece comigo quando vejo mulheres com o perfil próximo ao meu, passando pelas mesmas dificuldades que eu passo. E isso me entristece. Conheço poucas mulheres negras que têm patrocínio para fazer o que elas quiserem”, afirma.
É pensando nisso que Teresa abre espaço para que elas possam brilhar em seu show, intitulado “Sorriso Negro”. Em fevereiro, ele aconteceu na Casa Natura Musical. No evento, a artista mistura a música com a trajetória do negro no Brasil – dando uma aula de história e de samba. Pensando na importância de seu nome na cultura do país, chamamos Teresa Cristina para um bate-papo sobre política, carreira e internet.
“Foi uma conquista porque é um contato direto com meu público e com quem não conhecia meu trabalho. Essa experiência foi importantíssima e se tornou algo que não abro mão. Acho importante poder ouvir as pessoas e saber a opinião delas sobre o que estou produzindo.”