língua é um órgão versátil. Formada por quatro músculos que trabalham de forma conjunta, é responsável por sentirmos sabores, movimentar alimentos por nossa boca, e também para causar prazer sexual. Embora esteja ligada ao aparelho digestório, é uma das maiores aliadas na cama. Suas façanhas são algumas das preferidas quando o assunto são as preliminares – ou durante o ato, por quê não?
Se todo mundo gosta de ser chupado na hora da transa, saiba que a coisa não é mecânica ou muito menos simples. Há diversas maneiras de passar sua língua por um pênis, uma vulva e sua vagina, e até pelo ânus. Bem utilizada, a língua é ainda uma ótima aliada do gouinage, a prática sexual sem penetração, tocando outras zonas erógenas além dos órgãos sexuais, como dedos, axilas, virilha, pescoço, costas, entre muitas outras.
Catapultado ao sucesso após participar da décima oitava edição do Big Brother Brasil, o psicólogo e sexólogo Mahmoud Baydoun é um fenômeno nas redes sociais. Unindo conhecimento e bom humor, ele dá dicas para mais de 4.5 milhões de seguidores sobre o sexo. Agora, ele está lançando seu terceiro e-book, chamado Na Ponta da Língua, com nada menos do que 69 dicas para o sexo oral. São três capítulos, divididos entre vagina, pênis e ânus, com técnicas de nomes peculiares, como Saquinho de Chá e Espremedor de Laranja, mas nada foi criado pela mente inventiva do pesquisar, que trabalha com o tema há mais de uma década.
Mahmoud conta que constrói todo conteúdo de seus trabalhos publicados através de dúvidas e sugestões de sua audiência, que é majoritariamente feminina. Nessa entrevista, que ele nos concedeu enquanto viajava pelo Peru, ele falou sobre sexualidade, tabus e maneiras de apimentar a relação. Confira:
Queria começar pelo seu e-book novo, Na Ponta da Língua, com 69 técnicas para fazer sexo oral, com dicas pra chupar pênis, vagina e ânus. Num mundo tão digital e tão maníaco pelas redes sociais, você tem público para lançar um livro. Como foi cultivar essa audiência?
Tenho um público bastante fiel, pessoas muito interessadas em sexo. Vou construindo os e-books através da minha relação com as pessoas. Elas vão pedindo e eu vou montando. Venho ganhando seguidores desde que participei do BBB, mas não foi isso que trouxe a clientela e o público que tenho hoje, apenas fez com que eu olhasse para a internet como uma maneira de ganhar dinheiro. Sempre quis seguir carreira acadêmica, ser professor universitário, e nunca pude. Saí do BBB com mais ou menos 2 milhões de seguidores e, depois que passou, fui perdendo esses seguidores. Não conseguia encontrar emprego da forma que queria, então comecei a gravar vídeos e dar aulas na internet, e assim fui construindo uma comunidade. Hoje tenho 4,5 milhões de seguidores, mas não é isso que importa, e sim as pessoas confiarem em você, te verem como um porto seguro.
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Seu livro tem 69 técnicas de sexo oral, mas quais são as suas favoritas?
Dividi em três capítulos. Embora meu público seja majoritariamente de mulheres heterossexuais, decidimos incluir técnicas para chupar a periquita, para chupar o pênis e para chupar o ânus, englobando todos os tipos de oral. Nesse livro, as técnicas que mais estão fazendo sucesso para chupar piroca são a Rainha da Sucção, o Boquete Parafuso e também o Saquinho de Chá. Na parte da periquita, tem a técnica da Lambida Larga e o Passeio Completo. Mas, para além dessas técnicas, a que mais faz sucesso no meu perfil é o Espremedor de Laranja, que é uma técnica de tantra. Eu não invento nada, vou pegando dos cursos que faço, dos livros que leio.
“As técnicas que mais estão fazendo sucesso para chupar piroca são a Rainha da Sucção, o Boquete Parafuso e também o Saquinho de Chá. Na parte da periquita, tem a técnica da Lambida Larga e o Passeio Completo. Mas, para além dessas técnicas, a que mais faz sucesso no meu perfil é o Espremedor de Laranja, que é uma técnica de tantra”
Por que dicas sobre sexo – para transar mais e/ou melhor – são um conteúdo que vende e engaja tanto?
Porque é um tabu. Tudo que é proibido chama muita atenção, e porque o sexo é uma necessidade. Mas, você pode ver que o que chama atenção na internet é barraco, traição, sexo, tudo que é “proibido”. Tudo isso contribui, mas acho que as pessoas têm curiosidade de saber, têm vontade de dar uma levantada, uma apimentada na relação. Muitas mulheres casadas me seguem, estão com o marido há anos, amam ele, mas não sentem mais tesão. Isso é muito comum. Aí vem o papel de inovar o relacionamento, trazer coisas diferentes, porque o sexo é muito focado na penetração. E muitas mulheres consomem esse tipo de conteúdo porque elas foram as mais reprimidas pela sociedade, então encontram ali um espaço para aprender novas coisas.
Você falou sobre a sexualidade ser um tabu no Brasil, mas você faz a coisa com muito humor e naturalidade. Isso ajuda a elucidar as pessoas?
Claro! Hoje, a internet tem de tudo. Se você vai no YouTube procurar como se opera um coração, vai ver um tutorial de cirurgia. Mas, as pessoas não vão deixar de ir ao médico quando tiverem um problema de coração, e não vão deixar de seguir o médico que confiam. Então, não é só a informação que conta, e nem a autoridade. Tenho a minha como sexólogo, mas não é suficiente, porque existem muitos outros sexólogos por aí. O que faz diferença é a autenticidade, a energia, a forma como me relaciono com essas seguidores. Elas querem dicas sobre sexo da forma como eu ministro, da forma que eu passo. Meu jeito pode desagradar? Sim, mas para muitas outras meu jeito agrada. É um conteúdo feito com muito entretenimento para as minhas seguidoras.
Na pandemia, muita gente ficou sozinho e precisou recorrer a sex toys e outras alternativas para não ficar apenas na mão. Você sente que estamos quebrando esse tabu?
O principal órgão sexual, e o fator que mais interfere na nossa sexualidade, é nossa mente. Não adianta eu estar em casa cheio de vibradores e brinquedinhos se continuo cheio de tabus, se me reprimo e não me entrego, se estou transando e pensando em outra coisa, ou então sentindo culpa. Precisamos libertar a mente das pessoas, porque elas têm muito tabu. Os sex toys ajudam, são muito importantes, mas o principal fator que interfere em nossa sexualidade é a mente, porque existem diversos sex shops, mas milhões de mulheres não têm coragem de pisar em uma loja, ou entrar em um site. Nesse sentido, o sex toy complementa a libertação da mente, sim.
“O principal órgão sexual, e o fator que mais interfere na nossa sexualidade, é nossa mente. Não adianta eu estar em casa cheio de vibradores e brinquedinhos se continuo cheio de tabus, se me reprimo e não me entrego, se estou transando e pensando em outra coisa, ou então sentindo culpa. Precisamos libertar a mente das pessoas”
Sua audiência é majoritariamente feminina, mesmo você sendo um homem gay. O que os homens heteros precisam urgentemente aprender com os gays para melhorar a performance na cama com as mulheres?
Não com os gays. Eu passo as dicas como sexólogo. Nós, que somos sexólogos e psicólogos, trabalhamos mais a parte emocional, do relacionamento, com base em pesquisas e estudos, e também a partir dos relatos das mulheres. Na minha carreira como sexólogo, e não como gay, já ouvi muitas mulheres insatisfeitas com a performance dos homens. Os homens heterossexuais realmente precisam ler mais sobre sexo, ouvir mais as mulheres. Porque eles têm esse pensamento de que são héteros e entendem tudo de buceta. Mas, quem tem que entender mais é a dona da buceta. Na internet, tem muito esse pensamento de que ‘eu vivi isso na pele, superei e agora vou ensinar você’. Mas essa mulher não é sexóloga, não tem formação. Não estou desmerecendo a história, mas precisamos levar a sexualidade um pouco mais a sério. Quando trabalho com a sexualidade, falo na internet sobre as minhas experiências pessoais, porque isso humaniza o perfil, mas o que reina acima de tudo é a minha profissão.
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Uma queixa muito comum de muitas mulheres héteros é sobre a supervalorização da penetração. Aproveitando o gancho do livro, por que damos tão pouca importância para o sexo sem penetração?
Por muito tempo, o sexo foi visto como um mal necessário para a procriação. Qual a prática que leva à procriação? Um pênis dentro da vagina. Tudo que sai desse cenário causa dúvida, será que é normal? Muitas mulheres heterossexuais me dizem que preferem dar o cu do que a periquita, e me perguntam se são normais. Claro! Se está em um relacionamento, tudo é aceito. Por que elas me perguntam isso? Porque foram educadas que sexo é pênis dentro da periquita, de preferência entre pessoas casadas. Ainda tem essa visão enraizada da tradição judaico-cristã, e que permeia não só as relações heterossexuais, mas as relações gays também. Ainda vemos muito a divisão entre o ativo e o passivo, e uma associação da sociedade de que o ativo é o mais másculo e o passivo é o mais feminino, porque é penetrado. Hoje em dia, existem mulheres heterossexuais que penetram homens com pênis de borracha, e nem por isso os homens deixam de ser hetero, porque erotismo é uma coisa e orientação sexual é outra. Mas, muitas pessoas não estão prontas para essa conversa, querem que a vida continue a mesma, com tudo bem dividido e simples. Só que a sexualidade é muito complexa, cada um tem um desejo diferente do outro.
Outro ponto é que falamos sempre sobre representatividade, e você é um homem que dá muitas dicas para mulheres melhorarem sua performance sexual, o que pode ser interpretado de forma problemática. Você já sofreu essas críticas?
Já passei por críticas dizendo que não é meu lugar de fala, mas sempre deixei claro que não estou colocando lugares de fala. Eu não sou mulher, nem nunca serei. Estou falando do meu lugar como sexólogo, um estudo que faço desde 2011. Sempre quis ser sexólogo. E, quando você faz uma pós-graduação em sexualidade humana, estuda para atender pessoas com dificuldades sexuais independente de gênero ou orientação sexual. Eu não estudo para atender apenas gays ou homens heteros, até porque se eu atendesse apenas homens, faliria. Meu público sempre foi majoritariamente feminino, seja na clínica ou no Instagram. Antigamente, esse tipo de crítica me deixava puto, hoje levo numa boa. Os conceitos de lugar de fala e de representatividade são de extrema importância, mas, no meu caso, essa crítica não cabe, porque eu estudei um monte de anos para ser sexólogo. Estou falando do ponto de vista técnico, científico, estou ali para resolver o problema de uma pessoa que me procurou.
“Qual a prática que leva à procriação? Um pênis dentro da vagina. Tudo que sai desse cenário causa dúvida, será que é normal? Muitas mulheres heterossexuais me dizem que preferem dar o cu do que a periquita, e me perguntam se são normais. Claro!”
Não poderia deixar de perguntar: por que o livro chama Na Ponta da Língua quando poderia chamar Mamando com Mahmoud?
[Risos] Poderia até ser, mas não sou eu que escolho o nome do e-book. O que eu faço antes de escrever? Quando tenho uma ideia sobre um certo tema, abro uma caixinha de perguntas na rede social e peço sugestões para o título. Eu olho junto com a minha equipe, escolhemos as sugestões que chegaram mais vezes e as que chamaram mais a atenção. Aí, abrimos uma enquete. São as próprias seguidoras escolhem o título do livro.
Com tanta atuação das seguidoras nas suas redes, você consegue planejar com bastante antecedência seu trabalho?
Nada! A única coisa que gravo com antecedência, porque estou nessa tentativa de ser nômade digital, ficar viajando o mundo, são os vídeos do YouTube. Eu deveria ser mais organizado nas outras redes, mas muitas vezes decido o que postar no mesmo dia. Hoje, prefiro fazer stories, uma coisa mais automática e dinâmica.