influenciadora e maquiadora Bianca Barroca percebe que o desconforto do outro com o seu corpo se dá de várias formas, muitas vezes sutilmente. Na cama, a pessoa fica muito sem jeito, não querendo encostar em sua barriga, seu peito, numa clara esquiva. Frases como “ai, você é a primeira gordinha com a qual eu transo, mas até foi legal” são também bem corriqueiras.
Relatos como o de Bianca mostram que a gordofobia é naturalizada, o corpo gordo não. Primeiro, vamos de conceito: a gordofobia é o preconceito e discriminação com pessoas gordas. Ela acontece em todos os contextos, lugares e recortes, inclusive na cama. Durante toda vida, ou em grande parte dela, nossos corpos são fatores importantes de insegurança. Eu mesmo já fiquei inseguro diversas vezes, a ponto de querer ficar de camisa transando ou passar o date inteiro contraindo o abdome, quando saí com pessoas com corpos mais normativos que o meu – sendo o meu já bastante normativo.
Em nossa sociedade, a gordofobia é naturalizada, o corpo gordo, não. Gordofobia é o preconceito e discriminação com pessoas gordas, e ela acontece em todos os contextos, lugares e recortes, inclusive na cama
Mas é bom lembrar que os ideais corporais mudam constantemente. Durante o renascimento e outros momentos da história da arte, vimos ancas largas, peitos fartos e corpos gordos sendo significado de poder, riquezas e fertilidade. O historiador Georges Vigarello em “As metamorfoses do gordo: história da obesidade no ocidente” demonstra claramente as mudanças nessas percepções e representações artísticas ao longo da história. Talvez o registro mais antigo que temos dessa ode ao corpo cheio de curvas seja a Vênus de Willendorf, uma representação da fertilidade feminina, idealizada há cerca de 25 mil anos de Cristo. Trazendo para mais perto, no século XVI, temos pintores como Peter-Paul Rubens e Rembrandt retratando os voluptuosos padrões de beleza da época. E dando uma dica de artista mais atual, gosto muito do trabalho da artista Fernanda Magalhães, de Campinas, que usa seu próprio corpo – fora dos padrões – para questionar as “caixinhas” que a sociedade criou – escute o tabu quebrando.
Hoje, muitos almejam o que chamamos de corpo padrão e pessoas padrão, que são aqueles malhados, bem torneados, magros, com bunda na medida, peitos médios para grandes ou pelo menos bem empinadinhos. Ter esse tipo de como padrão de beleza gera impactos psicológicos gerados intensos e um grande estigma em cima dos corpos obesos.