ealmente não está fácil ser brasileiro. Se antes da pandemia você ainda não tinha cogitado acompanhamento psicológico ou pensado em tomar alguma medicação, depois de mais de um ano o assunto já se tornou, no mínimo, recorrente. Venlafaxina, sertralina, frontal e outros nomes que estão cada vez mais comuns no nosso dia a dia são os salvadores da nossa saúde mental, junto com a terapia – que se mostrou o melhor investimento dos últimos anos para quem já fazia. Todavia, desde que você começou a tomar tais medicações, talvez você tenha percebido quea ejaculação está demorando mais, o orgasmo por vezes não vem e, de forma geral, o jeito que você transa ou se masturba está mudando – para pior. Se isso tudo anda te incomodando a ponto de querer parar de tomar os remédios, por favor, leia este texto antes.
Um levantamento feito pelo Conselho Federal de Farmácias mostrou que a venda de medicações antidepressivas cresceu 17% no ano de 2020 em comparação a 2019. Além disso, um estudo do ano passado da UERJ avaliou mais de 1.400 pessoas em 23 estados e mostrou um aumento de 90% dos casos de depressão e de 70% das crises de ansiedade em comparação a 2019. Nos consultórios, já é assunto clássico e recorrente a insegurança quanto aos efeitos colaterais de ansiolíticos, antidepressivos e estabilizadores de humor. A pauta é um grande tabu e, por isso, pouco discutida na relação médico-paciente, já que os efeitos – muito incômodos e recorrentes – envolvem os nossos momentos mais íntimos. De acordo com uma pesquisa feita em 2003, 50% dos pacientes que iniciam tratamento com medicações psiquiátricas não relatam sobre os efeitos colaterais a suas médicas ou a seus médicos. Além disso, cerca de 41,7% dos homens e 15,4% das mulheres admitiram que interromperam o uso dos remédios depois que começaram a perceber mudanças na vida sexual.
De acordo com uma pesquisa feita em 2003, cerca de 41,7% dos homens e 15,4% das mulheres admitiram que interromperam o uso dos remédios depois que começaram a perceber mudanças na vida sexual
A Joice*, de 23 anos, faz tratamento para depressão e ansiedade há três anos. Ela iniciou com terapia cognitivo-comportamental e, depois de um tempo, também se consultou com uma psiquiatra, que lhe receitou algumas medicações. No início, tomava fluoxetina e a sua libido “se tornou extinta”, como ela mesma diz. A partir daí, trocou de medicação por várias vezes e, hoje, faz uso de duloxetina, que no campo sexual está fazendo o efeito inverso: aumento do apetite sexual.
Os efeitos mais relatados pelas pessoas que tomam medicações antidepressivas, ansiolíticas ou estabilizadoras de humor são a queda de libido ou o aumento da libido, ejaculação precoce ou retardada, falta de orgasmo ou disfunção erétil (dificuldade na ereção). Então, é comum, como no relato da Joice, que, depois de mudanças na medicação, os efeitos colaterais também mudem.
Eu mesmo já passei por várias medicações ou doses diferentes e, a cada mudança, era um grande medo. Antes de um encontro com alguém, surgia uma ansiedade grande de não conseguir gozar com aquela pessoa, não conseguir manter a ereção e, no fim, acabar numa transa ruim. Entretanto, percebi que minhas inseguranças estavam mais relacionadas em como aquela medicação vai afetar o outro do que a mim mesmo. A partir disso, comecei a refletir que cada um transa de forma diferente e, principalmente, goza de maneira diferente. Assim, é muito importante que aconteça um diálogo na “hora H” – esse termo deve ter uns 50 anos – para alinhar as expectativas. Considerando que cada vez mais pessoas estão tomando diferentes remédios, as chances de você encontrar alguém que está passando ou passou pelo mesmo é grande, então o diálogo vai acontecer de forma muito mais orgânica. Agora, se a pessoa que está com você criar problema por conta de medicação, a reflexão já é sobre continuar ou não se relacionando com ela.
Os efeitos mais relatados pelas pessoas que tomam medicações antidepressivas, ansiolíticas ou estabilizadoras de humor são a queda de libido ou o aumento da libido, ejaculação precoce ou retardada, falta de orgasmo ou disfunção erétil (dificuldade na ereção)
Voltando no meu papo com a Joice, perguntei a ela o que, durante todo esse tempo de tratamento, considerou mais importante. Ela me respondeu que realmente os efeitos eram bastante incômodos, mas mais incômodo ainda era a depressão e a ansiedade que ela estava passando. Ou seja, com a medicação, você tem dificuldades para gozar ou atingir orgasmos, mas, sem ela, a depressão e a ansiedade não permitem nem que você tenha libido para pensar em se relacionar. Então, o que fazer?
Dependendo da medicação que você está tomando, os efeitos e as formas de lidar com eles podem ser diferentes. Mas vou te contar a seguir algumas estratégias que você pode tentar praticar para finalmente conseguir gozar sem chorar.