Para entender melhor a situação das pessoas com deficiência no nosso país – e a importância dessa representatividade –, leia a reportagem “Nós estamos aqui”
Nathalia Santos
Instagram: @nathaliasantos | 44.6k seguidores
YouTube: Como assim, cega? | 8.31k seguidores
A carioca de 28 anos nasceu cega, chegou a enxergar 20% e, aos 15, ficou cega novamente. Jornalista, produtora de conteúdo do Multishow e palestrante, Nathalia produz conteúdo educativo, não apenas sobre a sua deficiência, mas também sobre outros recortes que contam sua história: ser mulher, negra e periférica.
“Nasci e cresci em uma favela do Rio de Janeiro chamada Cidade Alta. Minha vida foi repleta de muitas dificuldades, muito mais por conta de uma sociedade despreparada para lidar com a minha deficiência e por não ter dinheiro para conseguir um bom suporte tecnológico do que por ser cega. Aliás, nunca tive problema em ser cega. As pessoas sempre me perguntavam como era não enxergar, como eu vivia etc. E criei meu canal para responder a essas questões e para ter um contato mais direto com esse público. Meu conteúdo começou a ganhar mais visibilidade porque trabalhei na televisão, no programa Esquenta! (Rede Globo), como comentarista e pesquisadora, e depois como produtora e repórter na Globonews. Mas a internet é um paradoxo para pessoas com deficiência: se é um dos meios mais acessíveis, enquanto plataforma, o conteúdo produzido para ela não é. Menos de 1% dos sites brasileiros são acessíveis a pessoas com deficiência. E não é um desafio de programação, é porque, no imaginário comum, nós não consumimos. Ou somos poucos, sendo que representamos cerca de ¼ da população. As pessoas culpam o governo, o governo culpa as empresas e ninguém faz nada, quando cada um podia fazer sua parte. Se você vai abrir um site ou uma loja, por exemplo, pode entender como tornar seu espaço acessível. A gente teve um avanço muito grande em tecnologias assistivas que atendem as mais diferentes e diversas deficiências, mas não teve evolução de capital humano.”
Ver essa foto no Instagram
“Há muito tempo, o deficiente era visto como um encosto, que dava trabalho para a família, ficava dentro de casa. Hoje estamos na rua, nas faculdades, nas praças, nos trabalhos, na rede social, na internet. Acho que a rede social é, sim, um espaço em que o deficiente está aparecendo cada vez mais, mas somos poucos ainda e somos os poucos que as pessoas fazem questão de não ver. Não estamos nas novelas, propagandas e nos jornais, então representatividade é muito difícil. E quando a gente está em algum lugar é para falar da deficiência, da dor. A deficiência vem sempre antes. O Brasil precisa olhar para a população com deficiência considerando a gente como indivíduo primeiro e depois enquanto grupo, porque, como mulher cega, negra e favelada, tenho uma realidade completamente diferente de uma outra mulher cega e branca, que mora em outro lugar.”
“Temos limitações iguais, mas realidades diferentes. Mas ainda não enxergam a gente nem enquanto grupo, que dirá enquanto indivíduo. Dentro dos nossos nichos, acho que estamos fazendo diferença, mesmo que não da maneira que a gente esperava. Agora estou grávida, então qualquer conteúdo relacionado a isso faz muito sucesso, mas ainda tem muito comentário capacitista de não esperar que eu fizesse comida, me maquiasse sozinha, escolhesse minhas roupas. Mas ainda acredito que aos poucos a gente vai quebrando isso, com informação e esclarecimento.”