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A leveza e o frescor de Paolla Oliveira

Conversamos com a atriz sobre seu posicionamento político nas redes sociais, suas personagens destemidas e o machismo no meio artístico

por Beatriz Lourenço Atualizado em 6 jul 2022, 12h17 - Publicado em 6 jul 2022 00h43
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(Arte/Redação)

 atriz Paolla Oliveira já fez novelas, minisséries e filmes que contemplam todos os gostos. Suas personagens, vilãs ou mocinhas, sempre são determinadas e cheias de energia. Seu primeiro trabalho foi na novela Metamorphoses, da TV Record, em 2004, mas foi na produção Belíssima, do ano seguinte, que ganhou atenção do público. 

De lá para cá, ela nunca parou e seu protagonismo na mídia só cresce – tanto pela qualidade de sua atuação, quanto por sua versatilidade. Quem está acompanhando a novela Cara e Coragem, da Rede Globo, a verá dando vida a Pat, uma dublê de ação divertida e corajosa. “No processo de criação dela, fiz workshop de dublê para estudar diversas técnicas”, conta à Elástica. “Também me deparei com uma mulher muito real. Com ela, aprendi que podemos ser super-heroínas em várias áreas da nossa vida.”

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Essa não é a primeira personagem que Paolla interpreta que demanda um preparo físico intenso. Em 2017, ela participou de A Força do Querer com Jeiza, uma policial e lutadora de MMA. “Costumo falar que essas personagens femininas já chegam com a força da vida. Já acho que mulheres são fortes e ponto. Nós temos que brigar por nossas opiniões, trabalhar, cuidar de filhos, da casa”, afirma. “Mas é interessante usar o estímulo físico ou uma profissão que tem um meio muito masculino para colocar um elemento feminino. Assim, acabamos a desmistificação e mostramos que a mulher pode fazer o que ela quiser.”


“É interessante usar o estímulo físico ou uma profissão que tem um meio muito masculino para colocar um elemento feminino. Assim, acabamos a desmistificação e mostramos que a mulher pode fazer o que ela quiser”

Apesar de ser considerada uma das mulheres mais lindas do Brasil, a atriz já revelou que perdeu trabalhos por conta de seu corpo e, além disso, sempre é questionada sobre sua idade e relacionamento – o que evidencia o machismo no meio artístico. “Acredito que nos encaixamos ou não num perfil, e não precisamos nos transformar a todo custo”, revela. “Quero muito envelhecer bem, temos tecnologias para isso. Ainda assim, o que eu mais quero que esteja vivo em mim é a minha energia, a minha alma e a possibilidade de trabalhar.” Paolla também nos conta que seu melhor momento é o agora. E esse é um lugar de amor, posicionamento e, principalmente, leveza. Abaixo, confira nosso papo completo com a atriz:

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Na novela Cara e Coragem você interpreta ​​Pat, uma mulher destemida que é dublê de ação. Como foi a preparação para a personagem e o que você tem aprendido com ela?
Gosto muito de começar meus personagens com a preparação física: fazendo uma aula de dança, pensando no jeito de andar, no formato do corpo… Quando eu soube que a Pat era dublê de ação, vi que ia me divertir e trabalhar da maneira que gosto. No processo, fiz workshop de dublê para estudar diversas técnicas. O mais legal disso é que acabei encontrando muitos dublês de verdade e pude tirar dúvidas, entender como era o dia a dia e conhecer a personalidade de cada um. 

É legal ressaltar que essa profissão é muito marcada por questionamentos no nosso imaginário e sempre ficamos pensando como eles trabalham. Mas, por trás disso, tem uma mãe de família, alguém responsável que está lutando para pagar os boletos – que é o que passa pela realidade de todo mundo. Ao fazer essa personagem, me deparei com uma mulher muito real. Com ela, aprendi que podemos ser super-heroínas em várias áreas da nossa vida. 

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(Paolla Oliveira/Arquivo)

Em A Força do Querer, você deu vida a Jeiza, que era policial e lutadora de MMA. O que muda em você ao encarar essas mulheres fortes?
Acho que esse termo “forte” é um pouco antigo porque me soa redundante. Costumo falar que essas personagens femininas já chegam com a força da vida. Eu já acho que mulheres são fortes e ponto. Nós temos que brigar por nossas opiniões, trabalhar, cuidar de filhos, da casa… O que é mais interessante é usar o estímulo físico, por exemplo, uma profissão que não é muito corriqueira ou uma profissão que tem um meio muito masculino, como era o da Jeiza, e colocar um elemento feminino. Assim, acabamos a desmistificação e mostramos que a mulher pode fazer o que ela quiser. 

Recentemente, você participou de um vídeo sobre o rol taxativo e tem se posicionado sobre política e questões sociais nas redes. O quanto você tem aprendido ao usar a internet para conscientizar pessoas? Qual é a importância disso?
É muito importante a gente se posicionar na vida, seja com uma pessoa, com a família, com os amigos… Ir em busca de informações, ouvir vários lados e formar sua opinião também é essencial – sinto que isso tem a ver com estar na vida com mais vontade, não só passar despercebido. 

Quando falamos de redes sociais, é um mundo paralelo, não acho que tudo tem que ser discutido lá e que esse é um lugar de diálogo. Mas acredito que seja uma porta dele. Se nós, artistas, que temos uma visibilidade maior, colocamos nas redes algo em que acreditamos, que não concordamos ou uma causa, podemos fazer as pessoas se questionarem e pesquisarem mais sobre o assunto. Vivemos um momento hoje em que não podemos nos calar, vemos uma coisa errada atrás da outra e é desesperador, isso nunca me incomodou tanto quanto agora. A gente se sente com as mãos atadas, estamos sendo esmagados e dá uma vontade louca de gritar. É por isso que pedimos, através das redes, para que a população repense seus votos e a forma como estamos vivendo. 

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“Vivemos um momento hoje em que não podemos nos calar. Estamos sendo esmagados e dá uma vontade louca de gritar. É por isso que pedimos, através das redes, para que a população repense seus votos e a forma como estamos vivendo”

Esse ano temos eleições e você já se posicionou contra o Bolsonaro, até recebeu ataques de seus seguidores. Qual é o balanço que você faz desse governo?
Fazendo o balanço desses quatro anos, acho que a gente vai perder a entrevista ou ganhar bastante tempo, porque há poucos elementos positivos. Acredito que precisamos falar sobre isso e, nesse sentido, foi tirado de nós algo que sempre foi um direito, que era o de nos manter calados. Eu nunca fui de me expor muito, mas acredito que nesse momento é necessário esse posicionamento. 

Essa pessoa não faz parte de nada que eu acredito, por isso o movimento contra ele foi algo muito natural. É um governo retrógrado, atrasado e triste. Por mais que um chefe de estado tenha caráter duvidoso, quando ele esconde isso parece que ainda há algum respeito por quem está ouvindo as coisas que ele está dizendo. Quando você vê que Bolsonaro expõe claramente suas questões sobre humanidade, sobre o meio ambiente e sobre tudo, percebe que o respeito que ele tem é zero.

Ao pesquisar suas entrevistas anteriores, me deparei com diversas perguntas sobre seus 40 anos. Por que a idade da mulher ainda importa tanto nas produções televisivas? Como você encara essa questão?
Essa pergunta é atrasada porque a gente não deve colocar a mulher numa posição na qual ela serve até os quarenta anos e que, a partir daí, tudo vira um problema. Acho que você deve até ter encontrado umas respostas malcriadas do tipo “por que eu deveria estar em crise se eu sou mais feliz e me sinto mais bonita hoje?”, “eu só faço quarenta anos porque fui mais jovem”, também já respondi que “a outra opção é morrer cedo, então estou felicíssima.” 

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Essa pergunta aparece porque as pessoas acham que a gente vai sofrer envelhecendo diante das telas. Quero muito envelhecer bem, temos tecnologias para isso e para que a gente siga a vida da melhor maneira possível. Ainda assim, o que eu mais quero que esteja vivo em mim é a minha energia, a minha alma e a possibilidade de trabalhar. Isso vai muito além de procedimentos estéticos, tem a ver com a minha saúde e o quanto estou cuidando da minha carreira para poder ser uma peça disponível nesse mercado por um bom tempo.


“Quero muito envelhecer bem, temos tecnologias para isso e para que a gente siga a vida da melhor maneira possível. Ainda assim, o que eu mais quero que esteja vivo em mim é a minha energia, a minha alma e a possibilidade de trabalhar”

Você já revelou ter perdido trabalhos por conta do seu corpo. Como você analisa esse cenário? Assim como a idade, porque o corpo ainda importa tanto nas telas?
O que importa mais é o famoso “physique du rôle”. Se eu me encaixar num personagem, está ótimo! Hoje as mentes estão mais abertas para tudo que tem sido dito e batalhado por nós – nos encaixamos ou não num perfil, e não vamos nos transformar a todo custo. 

Digo isso porque eu achava que tinha a coxa muito grossa, que meu cabelo podia ser de tal jeito, que podia ser mais alta… Todos passamos por isso, mas hoje em dia percebo que posso ter características para um trabalho, mas isso não quer dizer que eu preciso ceder às pressões da sociedade, das pessoas em volta e do emprego. Quem comanda os padrões estéticos, né? Em que livro sagrado está escrito quais são os padrões corretos? 

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(Paolla Oliveira/Arquivo)
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Como você lida com a sua autoestima?
Já lidei muito pior do que lido hoje. Já fui tão medrosa e insegura porque achava que devia ser mais assim, que não era boa o suficiente, que não sabia o suficiente, que minha carreira estava sendo levada para um lugar que não sabia se era o correto. Mas é tão libertador quando você olha para trás e entende que cada um tem seu caminho, sua história e vai pegando as oportunidades da melhor maneira que consegue. Hoje, eu olho para o lado e penso “poxa, eu fiz tudo isso!”. 

Desde a minha primeira novela, estudo, faço tudo o que posso. Sempre corri atrás para ser o melhor de mim. Aprendi a dar mais valor para o que sei fazer e para o que já realizei na minha vida do que para o que não tenho. Venho cuidando da minha autoestima com muita voracidade e fui me fortalecendo conforme entendi que a força estava muito mais no que pensava sobre mim do que no que os outros pensam sobre mim. 

Quando uma atriz entra num relacionamento, a mídia especula muito e quer saber todas as informações sobre ele. Com homens não é bem assim, o foco sempre é maior nos trabalhos que realizam. Você sente que isso acontece com você? Como mudar esse pensamento sexista na sociedade?
Acho que fui conquistando outro lugar com algumas respostas malcriadas. Quando digo isso é porque até nas nossas respostas as pessoas esperam coisas: que você tem que ser doce, tem que dizer gentilmente que não vai falar sobre isso… Então, o “malcriado” é no sentido de enfrentar a pergunta. Toda vez que recebo perguntas sobre filhos, digo que esse é o meu tempo! Tenho vontade? Sim, mas será no meu momento. Comecei a ser mais clara e não ceder ao que as pessoas estavam me impondo. 

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Mas não sofro tanto com as informações sobre meu relacionamento porque criei uma carreira muito sólida e ascendente antes de liberar que as pessoas falassem deles – como estou liberando agora o Diogo. Tem sido uma diversão e muito bacana as pessoas me perguntarem, aí acho que ficou equilibrado com a minha profissão. Ainda assim, é um saco essa situação! As meninas deveriam responder “pergunta o que eu vou fazer do meu trabalho, se eu estou estudando, se eu fiz uma faculdade, quais são as minhas habilidades” quando essas perguntas chegam nelas.

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(Paolla Oliveira/Arquivo)

Ainda falando de relacionamento, você e Diogo Nogueira tratam a vida a dois de forma muito leve e até surpreendem o público. Por que as pessoas ainda se assustam com um casal que se ama e mostra publicamente um relacionamento saudável?
Acho que isso vai muito além do meu relacionamento. As pessoas estão se assustando com qualquer ação afetiva. O que faz sucesso na internet é uma catástrofe, alguém arrancando a cabeça de outra pessoa, ou são vídeos de gentileza. Esses extremos estão tão presentes que uma demonstração de afeto ainda é esquisita. Ter uma relação leve e amorosa é estranhíssimo, parece algo de outro planeta. Acredito que isso tem a ver com o mundo de polaridades que estamos vivendo agora. 

Teve uma vez que alguém fez uma piada com as minhas redes sociais e disse: “se você quer ver leveza, tranquilidade e amor, vai no Instagram da Paolla.” E isso nunca mais saiu da minha cabeça. Será que eu sou a errada e estou fora do prumo? Dei esse exemplo porque, se depender de mim e do Diogo, vamos sempre mostrar para as pessoas que pode ser bom. Relacionamentos já não são fáceis, aí quanto mais pudermos ser leves e amorosos, seremos – no particular e nas redes.


“Se depender de mim e do Diogo, vamos sempre mostrar para as pessoas que pode ser bom. Relacionamentos já não são fáceis, aí quanto mais pudermos ser leves e amorosos, seremos – no particular e nas redes”

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Você tem uma carreira bem consolidada e com diversos personagens. O que você ainda não fez que está na sua lista de desejos?
Quando penso nessas metas muito futuras, não consigo ir muito longe. Tenho um temperamento que me leva a algo muito próximo. Estou num início de trabalho agora e, em todo começo, é preciso ser fresca e se renovar – principalmente alguém que já fez tantos trabalhos como eu. Tenho muitas coisas para o presente e o amo tanto  que o presente é meu melhor momento. 

Digo isso porque não sei se tenho vontade de fazer clássicos ou mais cinema, as coisas ainda me surpreendem! Para mim, todo papel é muito grande e importante. Só sei que quero ter muita energia para viver muito e encarar todos os desafios que a vida me trouxer.

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