ara ser manauara, é preciso ter fé na vida, como naquela música do Milton. Na capital do Amazonas, cerca de 66 mil pessoas moram em áreas de risco, segundo o Serviço Geológico do Brasil. Desde sua fundação, no século 17, para marcar a presença portuguesa na região, a cidade se desenvolve à base da improvisação. Ali, carência e falta fazem parte do cotidiano da grande maioria dos habitantes. Dados do IBGE divulgados em maio deste ano revelaram que Manaus possui mais da metade de seus 653.218 domicílios localizados no que o instituto chama de aglomerados subnormais, ou seja, ocupações precárias como favelas, vilas de palafita, invasões. É a maior proporção de moradias em condições sub-humanas entre todas as capitais do Brasil. A pandemia, que atingiu fortemente a cidade logo nos primeiros meses, veio apenas somar desgosto ao dia a dia sofrido de quem vive perto de rios sujos, cercado de lixo por todos os lados, sem saneamento adequado, como se pode ver neste ensaio de Caio Guatelli. Para aguentar a sina de ser manauara, só mesmo com raça, gana e manha.
Esta reportagem é a segunda parte de um especial que publicaremos durante toda a semana aqui na Elástica. A primeira, sobre um funeral realizado em casa contra todas as normas de segurança devido à pandemia do coronavírus, você confere clicando aqui.