romantização da maternidade não é nenhuma novidade. Ser uma supermãe e exercer todas as atividades que envolvem o cuidado integral de uma criança ainda são funções tratadas como uma tarefa fácil. Entretanto, a realidade pode ser bem mais exaustiva e caótica no dia a dia – afinal de contas, é humanamente impossível passar por esse ciclo sem se sentir esgotada às vezes.
Quando uma mulher se torna mãe, suas vontades e anseios continuam dentro dela. Mas, com a rotina cansativa fica cada vez mais difícil se conectar com quem elas eram antes de gerar um ser. É por isso que, para Heloísa*, assistente administrativa, de 22 anos, escolher continuar fumando maconha foi uma decisão simples. “Acredito que fumar um beck mudou a minha forma de maternar. Muitas vezes, é cansativo, difícil e dolorido. Todos os dias eu descubro algo que preciso renunciar, das coisas simples às grandiosas”.
“Acredito que fumar um beck mudou a minha forma de maternar. Muitas vezes, é cansativo, difícil e dolorido. Todos os dias eu descubro algo que preciso renunciar, das coisas simples às grandiosas”
Heloísa*
A jovem já fumava maconha e cigarro desde a adolescência. Além disso, ela nunca planejou e nem desejou ser mãe e, aos 19 anos, quando descobriu que estava grávida, foi um choque. “Como eu não queria, acabei não me preparando para abandonar algo que eu gostava de fazer. Apenas diminuí o uso que já fazia e fui atrás de artigos que falassem sobre os possíveis malefícios, mas nunca encontrei pesquisas muito concretas. Acho que os estudos nessa área são bem escassos.”
O achismo de Heloísa tem fundamento, de acordo com Caroline Rozendo, ginecologista e obstetra do Conjunto Hospitalar de Sorocaba. A médica afirma que um dos maiores empecilhos na hora de realizar o estudo é justamente o estado gestacional e, que a paciente se encontra. “Não encontramos público disposto a testar a funcionalidade da substância durante este período. Estamos falando de duas vidas, e uma delas não tem a liberdade de escolha em fazer ou não parte do teste”, explica.
Além de existirem poucas pesquisas sobre o tema, algumas também são inconclusivas e não cravam se a cannabis faz bem ou mal para a gestante e o bebê. A médica generalista Daniela Arruda de Barros é uma das gestoras do grupo de apoio às mães que fumam maconha, o Mama Sativa, e afirma que até existem estudos que comprovam que o uso da cannabis diminui quadros de pré-eclâmpsia e de diabetes gestacional, porém este mesmo estudo aponta riscos de nascimento prematuro e descolamento de placenta. O uso é desencorajado, mesmo sem a conclusão enfática de prejuízos reais. “Sabemos que, como toda substância ingerida por uma gestante, a cannabis sativa irá interagir com o bebê, afinal eles também possuem sistema endocanabinóide. A maconha é a droga mais utilizada por gestantes e precisamos de mais informações e estudos para que possamos vencer o preconceito”.