
otos alegres, uns em praias, outros em isolamento. Algumas fotos em trabalhos, uma propaganda e, enquanto o dedo segue a rolagem na tela, um registro íntimo de uma pessoa, um corpo nu. Qual é a imagem que vem à sua mente? Pois bem, o Instagram já deu alguns exemplos do que não quer mostrar pra você. Na teoria, a plataforma nunca permitiu a nudez e nem pretende expor essas imagens no seu feed, mas a prática mostra uma matemática desigual dos corpos expostos e dos corpos escondidos entre os algoritmos.
O trabalho de Milena Paulino foi um dos muitos bloqueados pela plataforma. Olhando por outra estética, em busca de novos olhares sobre pessoas gordas, a fotógrafa de Itaquaquecetuba, região periférica da Grande São Paulo, divulga seu trabalho no Instagram, no que define o corpo natural, nu e livre. O bloqueio da sua primeira conta aconteceu em 2019.
Ver essa foto no Instagram
Como as fotos seguiam as diretrizes de uso da plataforma na época – leia-se sem expor as genitálias de nenhuma das pessoas fotografadas e seios femininos –, ela pediu respostas ao Instagram. O retorno veio: a conta tinha sido retirada por engano. Mas, com menos de uma semana, o trabalho foi excluído da rede. Na época, ela já contava com mais de 60 mil seguidores. Desde então com uma nova conta, @olhardepaulina_, ela ainda recebe denúncias classificadas como conteúdo impróprio. Nas últimas semanas, mais uma foto foi retirada, dessa vez por não respeitar as diretrizes, especificamente por expor um seio feminino.
E por que o nude? Para Milena, um dos trabalhos, o projeto ‘Nus Cômodos’, representou cura. Afinal, como encontrar alguém de confiança para fazer um ensaio artístico sem se sentir julgada? A confiança na humanização do seu corpo enquanto uma mulher gorda. Que não a colocasse, por exemplo, em um lugar de tentar deixá-la magra para a foto. O projeto tem como meta, segundo a autora, trazer o nu como a linguagem de um corpo que conta histórias. “A finalidade é ser exposto na internet, para incentivar que as pessoas continuem consumindo arte, que a nudez continue sendo naturalizada e humanizada, e que os corpos continuem sendo representados em seu estado mais natural, nu e livre. Mesmo em quarentena. Principalmente em quarentena.”
Ver essa foto no Instagram
“A finalidade é ser exposto na internet, para incentivar que as pessoas continuem consumindo arte, que a nudez continue sendo naturalizada e humanizada, e que os corpos continuem sendo representados em seu estado mais natural, nu e livre. Mesmo em quarentena. Principalmente em quarentena”
Milena Paulino
A discussão atravessa os oceanos e é colocada em xeque no mundo inteiro. Em 2017, as responsáveis por pesquisar qual era o perfil de foto removida da plataforma foram Arvida Byström, fotógrafa e artista sueca, e Molly Soda, artista digital de Porto Rico. O resultado foi o livro “Se você não fotografou, não aconteceu: imagens banidas do Instagram”.
O resultado não chocou. A maioria das fotos removidas do Instagram na época eram femininas, também de mulheres negras e trans, caracterizando o que as autoras classificaram como “censura moderna”. No compilado, não foram só os nudes alvos da remoção. Publicações da poeta Rupi Kaur abordando a menstruação feminina também foram excluídas da plataforma. Em uma das fotos, a poeta estava completamente vestida e, na outra, sequer tinha um corpo: era apenas a imagem de um celular com a mensagem: ‘Você não depila as pernas?’; ‘Oi?’; “Desculpa, eu não quis dizer isso. Foi só curiosidade”.