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Achou que o emo era só uma fase?

O estilo retorna repaginado e incorporado em elementos da cultura pop, da moda e dos novos festivais de música

por Beatriz Lourenço Atualizado em 20 jul 2022, 16h40 - Publicado em 15 jul 2022 01h04
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(arte/Redação)

pós oito anos de pausa, a banda My Chemical Romance lançou um single inédito. A música “The Foundations of Decay”, que remete aos sons do primeiro álbum, tem seis minutos e mais de 11 milhões de reproduções no Spotify. Ela chegou num momento propício, no qual festivais ao redor do mundo estão incluindo o emo em seu line up, como Lollapalooza, Rock in Rio e o inédito When We Were Young, que tem Paramore, Avril Lavigne e o próprio MCR como headliners.

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Se você ainda não entendeu sobre o que estamos falando, saiba que essas eram as evidências que precisávamos para comprovar o retorno do emo. Sim, a febre dos anos 2000 está de volta e se incorporou à cena pop, às vestimentas da geração Z e aos eventos musicais. Um dos primeiros sinais foi notado quando Olivia Rodrigo lançou o álbum Sour, que chegou recheado de melodias com guitarras e baterias marcadas – é o caso de “Good 4 You”, que tem tanta semelhança com o hit “Misery Business”, do Paramore, que Hayley Williams e Josh Farro foram colocados nos créditos da música.

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Aqui no Brasil, Anitta chamou atenção com “Boys don’t cry”, que tem acordes resgatados do pop punk. O videoclipe, por sua vez, tem inspirações em filmes e séries de terror do tipo Beetlejuice e The Walking Dead. A própria estrela comentou no Twitter que a estética lembra como se vestia em sua adolescência: “eu era rockeira/emo de cabelo preto e vermelho…Queria voltar no tempo e mostrar pra Larissa adolescente. Ela ia amar”, escreveu.

Segundo a cientista social e coordenadora do laboratório de pesquisa LabCult, 

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Simone Pereira de Sá, revisitar o passado é um fenômeno frequente na história da música. “Certamente qualquer gênero musical será retomado 20 anos depois. Isso pode ser caracterizado como retromania, um anseio de voltar ao que já aconteceu”, explica. “Tem a ver com uma nostalgia de quem olha para trás e pensa que o momento de juventude foi a melhor época da vida. Por outro lado, a música é arte e ela não fica datada – sempre voltamos a algo que nos identificamos.”

Lucas Silveira, vocalista da banda Fresno, concorda e acrescenta que a cena também é interessante para quem não conseguiu vivê-la. “Acho que o retorno do que passou vai ser cada vez mais frequente, tipo a calça boca de sino ou a sonoridade anos 1980. Isso porque as pessoas estão ouvindo tudo muito rápido e enjoando. O emo é um estilo de 15 anos atrás e, hoje, está tendo esse burburinho porque quem nasceu em 2000 não acompanhou. Eles acham tão exótico quanto foi para nós”, conta.

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(Yuri Miyoshi / arquivo pessoal –Arte/Redação)

☆♩✧♪●♩○༅:*・゚゚♬☆ Do sentimento ao protesto

As letras emotivas que tratam de sentimentos como raiva, tristeza, solidão e frustração são a característica mais marcante das músicas emo. Basicamente, são canções que encorajam olhar para dentro e pensar em situações que todos certamente vivem, como inseguranças, medos e uma certa sensação de incompreensão. 

“Vi um tweet outro dia que falava que o emo era um subproduto da era Lula, em que o jovem tinha algumas garantias de futuro e passava a prestar atenção em fatores secundários no nosso pensamento capitalista, que é o bem estar mental e querer se sentir feliz e amado”, brinca Lucas. “Isso era uma queixa válida entre 2005 a 2008, porque ninguém ia te questionar falando que tem um monte de gente passando fome – tinha, mas era muito menos. Mesmo só fazendo músicas sobre as agruras do jovem, a gente atendia uma certa função social de endereçar questões muito importantes aos jovens, como essa necessidade de olhar para si.” 

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Conforme o tempo passou e a política ganhou mais destaque no dia a dia, foi inevitável a adequação das mensagens passadas ao público. “De 2012 para cá, foi se tornando impossível ser isento e imparcial porque várias questões atravessam a nossa existência. Quem é ou foi emo e curte um papo conservador, parece que não prestou atenção no que estava ouvindo – ou hoje não pensa mais daquela maneira”, analisa o músico. “Querendo ou não, a cena teve uma importância de fazer com que uma galera não se sentisse abandonada pelos rockstars.”

“De 2012 para cá, foi se tornando impossível ser isento e imparcial porque várias questões atravessam a nossa existência. Quem é ou foi emo e curte um papo conservador, parece que não prestou atenção no que estava ouvindo – ou hoje não pensa mais daquela maneira”

Lucas Silveira
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(Felipe Coppolaro/ Arquivo pessoal –Arte/Redação)

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O que vestem e onde postam

Ao comparar uma imagem dos e-boys e e-girls (tendência estética inspirada na cultura skatista, moda dos anos 1990, anime, hip-hop, gótico e trap) com a dos emos, é possível perceber semelhanças. O cabelo colorido e com cortes repicados, a maquiagem pesada e as roupas listradas são os mesmos. O que muda, na verdade, são as redes e as formas como todo esse pessoal se expressa. 

Há também um elemento fundamental de mediação nessa volta do emo: a cultura da internet. No início dos anos 2000, quando o gênero estava explodindo, as redes sociais não eram tão consolidadas como hoje. “O que vimos de lá para cá é essa mudança e, sobretudo, a possibilidade da gente ter acesso a essas informações”, afirma Simone. “Ela vira um arquivo no qual podemos mergulhar. Além disso, também permite que os grupos misturem muito as coisas. É por isso que temos bandas importantes que permanecem, mas também vemos um mix na sonoridade e na forma de se vestir.”

Se antes o MySpace, o Fotolog e o Tumblr eram usados, hoje é o TikTok que contribui para esse fenômeno. Lá é possível encontrar a hashtag #emophase, que tem milhares de vídeos de looks ousados com trilha sonora de bandas da época, alguns até com a legenda “emo não é só uma fase, e sim um estilo de vida”. Outro exemplo é o caso de Machine Gun Kelly, que teve algumas de suas músicas indicadas como trilhas da rede. O ex-rapper lançou o álbum Tickets To My Downfall, em setembro de 2020, com participação do ex-baterista do Blink-182, Travis Barker. Nele, há um icônico cover de “Misery Business”, do Paramore, que fez sucesso entre seus fãs.

“A questão não é só pessoas fazendo emo, mas o adotando em outros rolês. É tipo o FBC fazendo música comigo. Cabe a nós, que estamos há mais tempo nisso, ir abraçando e mostrando para a galera como foi antes”

Lucas Silveira

“O que vai ajudar esse novo clima subir são os artistas de outros segmentos percebendo essa sonoridade rock/emo como um artifício para se utilizar. Isso vai deixar os puristas bravos, mas é o que traz notoriedade. Não precisa ser true o tempo inteiro, pode-se usar como opção estilística e fazer muita gente ouvir pela primeira vez – trazendo mais fãs”, diz Lucas. “A questão não é só pessoas fazendo emo, mas o adotando em outros rolês. É tipo o FBC fazendo música comigo. Cabe a nós, que estamos há mais tempo nisso, ir abraçando e mostrando para a galera como foi antes.”

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(Kamila Copollaro, sua prima Larissa e a amiga Paula / Arquivo Pessoal –Arte/Redação)

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Nova geração com mais diversidade

Quem chega agora não tem medo de mudar ou arriscar. As novas bandas carregam mais cor, qualidade sonora e, principalmente, diversidade. Enquanto a primeira geração era composta majoritariamente por homens brancos, agora há mais mulheres e pessoas negras dominando os shows. É o caso de Meet Me at the Altar e WILLOW – que, inclusive, também tem a produção de Travis Barker.

“Quem ouvia emo normalmente eram meninas que ainda estavam na adolescência e ninguém nem tinham muito bem formado o que é hétero, bi ou gay. Em geral, eram pessoas com a cabeça aberta que estavam experimentando tudo”, lembra Lucas. “Para montar uma banda, normalmente alguém te empurra para esse universo, seja um pai que vai te dar uma guitarra ou algo do tipo. Sempre foi algo de mais difícil acesso do que jogar bola, por exemplo. Quando digo que para existir uma nova cena esse revival precisa ser novo, isso tem a ver com mais diversidade. Lá fora, super tem. Aqui, isso ainda está começando a ferver. No mínimo, que tenha cada vez mais mulheres fazendo som.” 

Elektra, ex-vocalista da banda Fake Number, foi uma das primeiras garotas que fizeram sucesso há 14 anos atrás e abriu caminhos para a nova geração. Segundo ela, o novo emo chega mais inclusivo e menos preconceituoso. “Hoje parece que todo mundo tem orgulho de falar que é emo, naquela época a gente tinha um receio de ser estigmatizado”, afirma. Quando a banda começou, a artista tinha apenas 15 anos e, por mais que sofresse diversas situações negativas, não tinha noção de que eram fruto do machismo. 

“Não havia tanta informação de que aquelas coisas eram erradas. Se volto a fita na minha cabeça, consigo perceber o que aconteceu de outra forma. Na hora de fazer um show, já fui impedida de entrar no camarim porque o segurança achou que eu era groupie, as pessoas diminuíram meu trabalho só por eu ser mulher e, por ser a única da equipe, era excluída das conversas e dos rolês que aconteciam”, lembra. “Minha sorte é que eu tinha muito pulso firme nas decisões. Se fosse mais tranquila, as pessoas passariam por cima de mim. Ao mesmo tempo que era legal ser uma das primeiras mulheres, também era muito difícil.”

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“Se volto a fita na minha cabeça, consigo perceber o que aconteceu de outra forma. Na hora de fazer um show, já fui impedida de entrar no camarim porque o segurança achou que eu era groupie. Diminuiam meu trabalho só por eu ser mulher e, por ser a única da equipe, era excluída das conversas e dos rolês que aconteciam”

Elektra

Além disso, aquele era o momento em que Elektra estava descobrindo sua sexualidade e, por não ser um tema amplamente discutido, também enfrentou a homofobia. “Eu não era assumida na época e até entender e contar para a minha família, fiquei no armário. Mas muitas pessoas próximas sabiam e algumas me colocavam em situações chatas na frente de outras”, conta. “​​Agora tenho certeza que vai ser diferente porque estamos num momento mais aberto. Temos mais artistas LGBTQIA+ que levantam a bandeira da inclusão e se posicionam – e isso é muito importante.”

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(Zé Pistilli/ Arquivo Pessoal – Arte/Redação)

。・:*:・゚★,。・:*:・゚☆ Repercussões que amamos

No Coachella deste ano, a cantora Billie Eilish convidou Hayley Williams ao palco e a parceria não sai da nossa cabeça.  

As paredes clamam pela volta de My Chemical Romance

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E quem lembra da clássica “Ocean Avenue”? Pois Yellowcard também anunciou seu retorno!

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Quem já está resgatando o cinto de rebite do armário? O emo não morreu, sempre esteve vivo em nossos corações. Por aqui, estamos assim: 

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