s histórias mais comuns que vemos no cinema são de heróis que enfrentam um grande inimigo numa batalha épica. No longa Pureza, de Renato Barbieri, o enredo também é esse. Mas não estamos falando de super-heróis com capas e poderes sobrenaturais, que viajam entre dimensões e lutam contra monstros. Estamos falando de Pureza Lopes Loyola, uma mulher que enfrentou fazendeiros poderosos para encontrar seu filho Abel – uma história real que virou filme. “Ela é fonte de inspiração, uma heroína que vive em carne e osso e está aqui para todo mundo ver”, afirma Dira Paes, que interpreta a protagonista, à Elástica.
Com estreia marcada para 19 de maio, a narrativa tem início no interior do Maranhão, quando Abel decide ir trabalhar nos garimpos da Amazônia em busca de uma vida melhor. Mas após ficar meses sem receber notícias do filho, Pureza sai munida apenas de uma bolsa e a roupa do corpo em uma jornada incansável para descobrir seu paradeiro. Sem muitas informações, ela vai até uma fazenda do Pará para trabalhar como cozinheira e se depara com um cruel sistema de aliciamento, maus tratos, cárcere e até morte de trabalhadores rurais.
O serviço dos empregados, por sua vez, consistia em derrubar a mata nativa para transformar a área em pastagem para o gado. Quem chegava até lá eram migrantes entre 18 e 24 anos das regiões Norte e Nordeste com pouca formação. Quando percebe a gravidade da situação, a mãe aflita reúne toda coragem que tem para escapar e denunciar os fatos às autoridades federais. E tudo isso de fato aconteceu no início dos anos 1990.
Com a ajuda da Comissão Pastoral da Terra, Pureza entrou em contato com o Ministério do Trabalho e o Ministério Público do Trabalho no Maranhão, no Pará e em Brasília. Chegou até a escrever cartas para três presidentes da República: Fernando Collor, Itamar Franco (o único que lhe respondeu) e Fernando Henrique Cardoso. Sua luta culminou na criação do Grupo Especial de Fiscalização Móvel, a primeira ação na história do Brasil destinada a combater o trabalho escravo em todo o território nacional. Já em 1997, ela recebeu em Londres o Prêmio Anti-Escravidão da Anti-Slavery International, a mais antiga organização de combate ao trabalho escravo em atividade no mundo. Hoje, Abel vive no município de Bacabal com a família.
Trazer essa história para as telonas foi um desafio e o resultado é uma mistura de documentário e ficção. Isso porque a trama traz no elenco cerca de 30 trabalhadores que já foram submetidos ao trabalho escravo. “Tivemos todo um processo de preparação para que eles pudessem atuar. Ao mesmo tempo, nossos atores profissionais também mergulharam nas gravações. Quando juntamos todos, foi muito emocionante”, revela o diretor. Em ano eleitoral, o lançamento se torna importante para refletirmos sobre o país que queremos e como ele tem sido conduzido nos últimos anos. Abaixo, você confere uma breve conversa com Dira Paes e Renato Barbieri.