esultado da ineficiência (ou quase inexistência) de políticas públicas para a questão das drogas na capital paulista, a Cracolândia, ocupada por milhares de pessoas desde a década de 1990, vê a vulnerável rotina marcada pelo abandono se acentuar em meio à pandemia.
Neste contexto, um gesto comum de sobrevivência no fluxo motivou a criação do projeto Birico. O termo, que faz referência à partilha da pedra de crack, muitas vezes associada à demonstração de solidariedade entre os usuários, dá nome ao projeto que reúne 30 artistas de diversas linguagens e condições sociais que têm em comum o envolvimento com o território.
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Formado por artistas que vivem nas ruas, ou não, a iniciativa compartilha o lucro das vendas em dois fundos: o de ‘Artistas’, que divide igualmente entre todas os participantes do projeto; e o da ‘Cracolândia’, voltado aos coletivos que, entre muitas ações, distribuem marmitas, máscaras e kits de higiene na região.
Thiago Mundano, conhecido artivista das ruas de São Paulo, que idealizou o projeto Pimp My Carroça para gerar renda e visibilidade aos catadores de recicláveis, ressalta o caráter unificador do Birico. “Essa união de artistas, desde os que vivem na rua até os que estão confortáveis em casa, como eu, é muito especial. Num mundo tão individualista, a proposta de juntar as duas pontas no Birico é única. O que faz a gente rever privilégios e se unir independente da situação social que a pessoa se encontra.”
Dura poesia concreta de tuas esquinas
Em meio ao colapso político, econômico e social que levou o país a índices históricos de recessão e desemprego, um levantamento recente realizado pela Secretaria de Assistência Social da Prefeitura de São Paulo mostra que, nos últimos quatro anos, a população em situação de rua na cidade aumentou 53%. Se em 2015, 15.905 não tinham moradia para viver na capital paulista, o Censo de 2019 aponta que este número disparou para 24.344 desabrigados.
Embora ainda não haja dados oficiais, o cenário foi possivelmente agravado nos meses de pandemia, reforçando a necessidade de iniciativas como o Birico: “Eu mesmo conheço catadores que tinham casa, perderam por conta de aluguel e voltaram para a situação de rua”, diz Mundano. “Então, um projeto neste contexto é muito importante para garantir o básico, itens de higiene, alimentação, marmitas. E o Birico, no coração dessa região que chamam de Cracolândia, é muito importante. É um lugar marcado por muitos conflitos econômicos, especulação imobiliária e isso acaba invisibilizando as pessoas que vivem ali, tratadas quase como zumbis. Só que, ali, tem ser humanos e suas histórias, que querem ter a oportunidade do recomeço e a liberdade, inclusive, de viver da forma que vivem. Porque é muito fácil a gente querer impor coisas e tirar a liberdade das pessoas.”
“Conheço catadores que tinham casa, perderam por conta de aluguel e voltaram para a situação de rua. Um projeto neste contexto é muito importante para garantir o básico, itens de higiene, alimentação, marmitas”
Thiago Mundano
Mundano reforça a necessidade de reflexão sobre antigos hábitos, privilégios e a oportunidade para a criação novas relações de trabalho durante a pandemia. “Se não pensarmos nessas questões agora, em tempos de pandemia, quando vai ser? Acredito que o Birico não vai parar por aí. Ele tem uma diversidade muito interessante nos artistas, uma produção de obras incríveis que expressam esse cotidiano por vários olhares. E o público também é parte desse ecossistema onde cria-se um fundo para artistas que estão precisando ou ajudando quem vive na Cracolândia.Tudo isso dentro de um importante contexto histórico”
Arte como redução de danos
Anita Silvia é atriz, ativista trans, mulher negra e fundadora do coletivo Mexa, que criou em 2015 após ser vítima de um ataque motivado por transfobia em um albergue. Após o episódio, Anita se tornou uma das responsáveis pela criação da CasaFlorescer, voltada ao atendimento exclusivo de travestis e transexuais em situação de vulnerabilidade, hoje com duas unidades na capital paulista.
Nascida em uma favela do Rio de Janeiro, a trajetória da artista é marcada por sua capacidade de movimentação mesmo diante da imobilidade física que a mantém em uma cadeira de rodas. Não sabe ler ou escrever. Nada disso, porém, a impediu de se tornar uma das mais ressoantes vozes do movimento trans das ruas de São Paulo. Usuária de crack, ex-moradora de rua e artista performática, tem na sua produção discursos relacionados ao cotidiano da Cracolândia.
Questionada sobre a importância do Birico, ela ressalta a visibilidade sobre o seu trabalho, e a de outros artistas pares, como um dos grandes triunfos da iniciativa. Sobretudo por torná-los mais humanos. “É muito importante para os artistas da Cracolândia poderem se expressar e não só serem agredidos. A violência, tanto física quanto psicológica, acontece a toda hora, a todo momento. Participar do projeto nos torna mais humanos. Porque essas pessoas que estão aqui muitas vezes foram expulsas de suas casas por serem adictas. Então, essa pessoa é abandonada primeiro pela família, depois pelo estado e, no fim, somos excluídos pela sociedade.”
“A arte vem pra tirar as pessoas daquela situação de abandono. A arte cumpre o papel de redução de danos como um CAPES, mas, em vez dos medicamentos, você usa o poder da imaginação”
Anita Silvia
Anita também destaca a função terapêutica da arte em tempos de pandemia na Cracolândia: “Ajuda a diminuir o uso e inclui essas pessoas na sociedade. Eu, Anita, usuária, fumando todos os dias, vou diminuir por causa do trabalho. Porque tenho uma obra pra fazer, algo pra ocupar a mente. Então, em vez de usar todo dia, uso um ou dois e paro, porque no dia seguinte vou trabalhar. Para deixar a cabeça mais ágil, mais cognitiva, para conseguir raciocinar e viver em sociedade. Então, a arte vem pra tirar as pessoas daquela situação de abandono. A arte cumpre o papel de redução de danos como um CAPES, mas, em vez dos medicamentos, você usa o poder da imaginação.”
Do lixo ao luxo
Durante os oito anos em que morou nas ruas da Cracolândia, entre reabilitações e recaídas, Cleiton Ferreira viu sua vida mudar em 2015, quando aderiu ao programa De Braços Abertos, implementado pela gestão de Fernando Haddad na Prefeitura de São Paulo entre 2013 e 2017.
Dentinho, como é popularmente conhecido nas ruas do centro de São Paulo, teve as primeiras lições de pintura no projeto de redução de danos e tomou gosto pela coisa. Hoje, aos 41 anos, o artista visual já participou de exposições e uma de suas obras ocupa as paredes da casa do ex-senador Eduardo Suplicy.
Dentinho ressalta que, em tempos de calamidade, como nos dias atuais, o que vale é a união artística, considerada por ele a essência do Birico, aproximando diversas formas de arte das ruas no projeto. “A nossa arte sempre foi presente. A arte anônima, a arte do invisível. Aquela que ninguém sente, mas existe. E essa visibilidade serve pra alimentar pros nossos ideais, nossa sobrevivência. Diferente do artista, que muita gente chama de ‘renomado’. Mas até onde vai esse renome? No autógrafo? E o Birico é isso, o compartilhar. No anônimo da vida, no lado do invisível, sempre vai ter o artista na calçada. Ele é o construtor da sua própria existência. Seja fazendo arte circense, num quadro, no corte de uma latinha, no artesanato, na estrada, numa pulseira, ele é a arte. A arte de viver. Nós somos a realidade dura e clássica dessa vivência. Porque São Paulo é uma cidade vulnerável. O cara acha que tá em São Paulo e vive a cidade, mas não. Ele trabalha em São Paulo. Ele só segue São Paulo, mas diferente de nós, que aqui deitamos neste chão. Que aqui estamos. Nós respiramos e sobrevivemos essa São Paulo. E aprendemos a fazer a arte de viver para sobreviver. Quando o Birico chega com esse nome, propõe uma transformação na arte: pegando cara renomado e o anônimo numa idéia só, compartilhar.”
Ele explica que seu processo criativo se dá a partir do reaproveitamento do lixo, ressignificando aquilo que é descartado pelas pessoas, o que ninguém vê. O que ele define como a expansão do lixo ao luxo. “Já fiz trabalhos que foram pra casa até de pessoas renomadas. Mas até que ponto vale isso? Será que, na arte, vale sua assinatura ou sua vivência?”.
Neste raciocínio, enfatiza que, ao reunir artistas anônimos e consagrados, o projeto transforma a arte em um ato de sobrevivência. “Não é um meio de competição, sobre quem é mais ou menos. Somos iguais. A arte de biricar é transformar. Porque birico, na verdade, é o termo usado quando o cara compartilha o seu próprio vício, neste caso a pedra. São pedacinhos de pedra, quebradas e transformadas em sobrevivência. Ou seja, o birico de arte é transformar a arte, compartilhar e ajudar o próximo que tá no anonimato, que tá sem esperança. Porque a arte do invisível acontece a toda hora.”
“O birico de arte é transformar a arte, compartilhar e ajudar o próximo que tá no anonimato, que tá sem esperança. Porque a arte do invisível acontece a toda hora”
Dentinho
Após ficar cego de um olho durante umaoperação policial realizada na Cracolândia durante a gestão do prefeito João Doria, em 2017, Dentinho avalia as recentes ações realizadas pela PM em meio à pandemia. Compara a repressão do poder público ao jogo de tabuleiro War, onde vence quem conquista o maior número de territórios: “É uma coisa que ninguém vê, né? Nós somos os culpados, o Estado sai por cima e ficamos assim. Tudo isso motivado por um ambicioso processo de especulação imobiliária, desde a época do Kassab, que caça esse povo tratado como marginal e criminoso pelo uso da droga. Claro que existe uma problemática na região, sim. Mas não é o caso de marginalizar o usuário, de oprimir e hostilizar, por meio de uma força policial totalmente preparada para matar. Como vários amigos já foram assassinados. E cada vez mais essa polícia hostiliza como conquista de território, como se fosse naquele jogo War. Com o apoio da mídia e de outros setores da sociedade, em um ataque onde a gente não tem como se defender. Há várias problemáticas nisso aí. É um questão que vem de vários anos causada pelo desemprego, falta de moradia, da falta de comunicação entre as autoridades. Será que vivemos numa democracia?”.
Arte salva
Ao lembrar de suas andanças pelo centro de São Paulo, Dentinho resgata na memória as incontáveis manifestações culturais que fervilham nas ruas da Cracolândia. Enfatiza o papel transformador da arte em suas múltiplas formas de expressão. “Se eu to falando com você é graças a esse resgate. Quem diria que um dia o Eduardo Suplicy compraria um quadro meu. Um quadro feito do lixo. Uma artista global comprar um trampo do Birico. E acreditar que uma lata virou arte. A arte resgata, dá esperança e motivação. Ela te tira da criminalidade, da prostituição, da margem. Ela te impulsiona. Faz você acreditar. É tocar o samba com um tambor ou um galão de água no ‘Samba da Lata’. Passar um lambe lambe na parede, num pedaço de papel conduzindo um trio e você pensar ‘que louco’ e isso te dar esperança de viver. É um cara pegar seus cachimbos e transformar aquilo em arte. Isso é arte, é a transformação de vida. Malabaristas, palhaços, pirofagias, fazendo um número circense. Tirar o sorriso de uma criança dentro do carro, bloqueada de vida, e ver aquele artista fazendo ela sorrir porque o pai dela não faz.”
Dentinho revela que sua experiência, como a de outros milhares que vivem ali, está vinculada à renúncia de um mundo cada vez mais egoísta e opressor. “É mais uma substância. Simples assim. Só que ela é potente, é o nitro, em dez segundos. Por isso ela tão viciante. Ela transforma. Vai de cada um. Tudo é edificado, tudo é pedra. Como se tira uma pedra do seu caminho? A gente não tira a pedra do caminho, a gente fuma ela. Para você construir, você tem que destruir primeiro. O meu usar de pedra foi destruir o que eu era pra me reconstruir. Mas tem pessoas que não querem se reconstruir porque o mundo é uma bosta. O mundo é ridículo, é opressor, é egoísta. E usar pedra é um uso só seu, uma viagem só sua. A minha viagem é minha viagem e é isso que ninguém vai entender. Nunca. Cada tem sua máquina, seu instrumento de batalha.”
“Como se tira uma pedra do seu caminho? A gente não tira a pedra do caminho, a gente fuma ela. Para você construir, você tem que destruir primeiro. O meu usar de pedra foi destruir o que eu era pra me reconstruir. Mas tem pessoas que não querem se reconstruir porque o mundo é uma bosta”
Dentinho
Dentinho faz uma provocação e questiona o estigma carregado pelos frequentadores da Cracolândia, em comparação às drogas usadas nas festas: “Porque eu com cachimbo sou ‘nóia’ e o cara na rave é frito? Ele usa drogas piores. Nas festas de faculdade, você encontra as piores drogas que existem. O álcool é pior que a pedra em si, porque é violento. Tem pessoas que matam umas às outras em suas casas e sem usar pedra. Então, por que a pedra é tão criticada? Porque é a droga do pobre. É a droga da verdade. Ela te tira tudo pra você aprender a viver.”
Em retrospectiva dos anos em que viveu nas ruas próximas à centenária Estação da Luz, seja debaixo de sol ou chuva, o artista pondera sobre os ganhos e danos no limite da existência humana. “As melhores pessoas que conheci na vida encontrei na Cracolândia. Gente verdadeira. Bonito ou feio, somos iguais. O que tem é a questão do uso. E assim apelidaram de Cracolândia, mas pra mim pode chamar também de culturolândia, vidolândia, existenciolândia. Assim eu aprendi a existir e resistir. Mas, também te digo, nesse caminho, nessa rua escura, se você entrar, e der o primeiro trago, vai ser difícil voltar. Comigo foram 8 anos. Não se assuste, não, porque não tenho papas na língua. Essa é minha vida, mas eu me divirto. São as veredas da vida, faz parte.
“Porque eu com cachimbo sou ‘nóia’ e o cara na rave é frito? Ele usa drogas piores. O álcool é pior que a pedra em si, porque é violento. Tem pessoas que matam em suas casas sem usar pedra. Então, por que a pedra é tão criticada? Porque é a droga do pobre”
Dentinho
Marina Barbosa, produtora do projeto Birico, e integrante do coletivo Tem Sentimento, lembra que a intelectualidade e potência de criação podem ir além da academia ou qualquer mácula elitista, costumeiramente, associada às artes plásticas: “Acho que representa um olhar justamente humano de reconhecer no outro, a potência e a insurgência artística e intelectual que uma pessoa pode carregar. É necessário reconhecer as criações que vem da rua, que vem das dinâmicas da vida, das relações, que se expressam em trabalhos que carregam a mesma potência de trabalhos que podem ter um valor altíssimo no mercado da arte.”
Ao falar sobre a possibilidade de novas relações socioeconômicas, Marina descarta o que chamou de “milagre da pandemia”. Ela acredita que as mudanças sociais e coletivas só serão possíveis quando, individualmente, prestarmos a atenção na forma como lidamos com o outro e com todo. “Quando pudermos olhar no olho e não olhar de cima pra baixo alguém que supostamente se encontra mais vulnerável; quando toparmos pensar que podemos dividir, ganhando um pouquinho, garantindo que outros também ganhem, sobrevivam e compartilhem ao invés de acumular dinheiro e status só pra si, aí sim eu acho que os processos coletivos passam a promover transformações reais na estrutura. Acho que o Birico vem aí com essa tentativa e esse intuito.”
Antenas da humanidade
Finalista da edição 2020 do PIPA, uma das premiações de arte contemporânea mais importantes do país, a artista plástica Renata Felinto lembra da própria trajetória, e de suas relações familiares, para analisar a rotina das milhares de pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade social no fluxo. “Venho de um lugar socioeconômico marcado pela falta de determinados recursos materiais. Também tenho na minha família pessoas que foram ou são adictas. E na Cracolândia temos várias realidades. De pessoas que estão na rua por uma questão familiar, pelo vício, que é o que, inclusive, nomeia de maneira pejorativa a região. Outras que estão com a família na rua. Nesse espaço geográfico no coração da cidade, que é tão marginalizado, porque são as pessoas que estão à margem da sociedade.que tem profissões, sonhos e muitas qualidades pra além do estereótipo da pessoa em situação de rua.”
Felinto, cujas obras se debruçam sobre a questão da identidade negra feminina, evoca a função social da arte ao avaliar a missão do projeto Birico. “É preciso a nós artistas, ‘antenas da humanidade’, olharmos esse momento por um viés mais visionário e com essa humanidade que está faltando no nosso cotidiano. Reconhecer nossos pares que estão em situação menos privilegiada e nos unirmos a eles no sentido de pensar algo horizontal e democrático. Que é a venda dessas obras de arte, a exibição dessas produções e a divisão igualitária dos valores entre quem tem mais reconhecimento na área e quem não tem.”
Artista que também é uma destacada pesquisadora da área, cita o poeta Mário de Andrade, para lembrar que a ‘arte é uma manifestação interessada na sociedade’: “Acredito muito nessas palavras e sempre que possível procuro me voltar pra essa frase poderosa e praticar esse interesse na sociedade. E me emanar com esses artistas de várias localidades, cores e origens é praticar a essência da arte, que é sua essência humana.’
Em meio ao processo de gentrificação da região central de São Paulo, que há quase uma década leva adiante o projeto de expulsão das populações de renda baixa de lugares bairros como Barra Funda, Luz, Bom Retiro, Campos Elíseos e adjacências, a docente descortina os interesses de uma sociedade voltada para o capital. “A gente tem prédios, edifícios e imóveis com valor histórico para a sociedade que são abandonados, justamente, para serem demolidos, vendidos e daí ser erguidos outros empreendimentos. Ao mesmo tempo, edifícios antigos que estão com impostos atrasados não podem servir de residência para população de baixa renda e em situação de falta de moradia do movimento sem teto. Eu não vejo perspectivas positivas para a cidade de São Paulo.”
E questiona o fato de, em meio à pandemia, 42 das famílias mais ricas do Brasil enriquecerem às custas do empobrecimento da população. Por outro lado, pesquisa divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no início de agosto aponta que 8.9 milhões de brasileiros perderam o emprego no segundo trimestre deste ano: “Como pode numa situação de precariedade, de empobrecimento, as pessoas mais conseguirem ficar mais ricas ainda? Então, o Birico é um projeto, e tem vários outros, e poderia ter muito mais, se nós artistas fizéssemos o papel mais político do ponto de vista de entender que somos parte dessa sociedade. Precisamos, inclusive, romper com essa aura nociva da prática artística. Somos profissionais. E como profissionais devemos também contribuir com o lado do desenvolvimento social e humano. Nesse contexto, o Birico acaba sendo a mão que segura a mão das outras pessoas. O tal ninguém solta a mão de ninguém e, por isso, acredito que estamos de mãos dadas mesmo estando distantes.”
A artista finaliza destacando a importância do projeto como inspiração para outras iniciativas semelhantes. Porque se nas ruas da Cracolândia, birico é, antes de tudo, uma estratégia de sobrevivência, nas artes a expressão se tornou sinônimo de transformação de vidas. Compartilhando, ideias, sonhos e utopias. “Eu acho que é um momento de reavaliação de posturas, de políticas, de projetos e condutas. Não existe ideia de respiro no sentido do ócio criativo para a maioria das pessoas. Para as pessoas que estão na Cracolândia, nas ruas, é um dia após o outro no sentido da sobrevivência do básico. É um momento pra gente propor aquilo que ficou guardado como utópico. O Birico é só uma referência pra que outras pessoas tomem iniciativas no mesmo sentido em várias áreas. É um momento de reinvenção social, pessoal, profissional e humana. Basta que você esteja com pessoas que possam compartilhar dessa necessidade de transformação.”
Devido ao sucesso de venda das obras, uma segunda edição do projeto está programada para os próximos meses. Acompanhe as ações do Birico nas redes sociais.