
esde que vim para a Elástica, um prédio bastante importante da arquitetura paulistana voltou a conviver com a minha rotina. Antiga sede da rádio Difusora e das emissoras de televisão Tupi e MTV, ele tem status de obra de arte devido aos dois murais feitos pelo artista alemão Gershon Knispel em sua fachada. Tombado pelo patrimônio público e aparentemente mal conservado, ele me desperta analogias curiosas com momento atual da comunicação.
O prédio que fica no número 52 da Avenida Professor Alfonso Bovero parece que foi construído sobre um cemitério indígena da comunicação brasileira. Quando toda a região de Perdizes ainda tinha horizonte no céu, foi fundada ali a Rádio Difusora, em 1934. Era uma casa que seria derrubada somente anos depois, mas que revelou nomes importantes do nosso imaginário popular, como Hebe Camargo.
Comprada 13 anos depois pelo magnata Assis Chateaubriand, a Difusora continuou existindo até os anos 1980 e, enquanto durou, disputou com unhas e dentes uma audiência enorme contra a Excelsior e a Record – que na época não era de um pastor, e tocava muito samba do bom. Chatô era malandro, viajado, e percebeu que um aparelho novo, que transmitia imagens e sons, ganharia espaço no coração dos brasileiros. Fundou a TV Tupi em 1950 e a instalou no mesmo prédio de sua rádio.
O tempo foi passando e o pioneirismo da Tupi forçou Chatô a repensar as sedes de suas empresas de comunicação. Maravilhado pelo trabalho do arquiteto paranaense David Libeskind no Conjunto Nacional, inaugurado na Avenida Paulista em 1955, ele convidou o paulistano Gregorio Zolko para tirar seu prédio do papel. Formado em Chicago e fortemente influenciado por Ludwig Mies van der Rohe e Frank Lloyd Wright, ele levantou um colosso de concreto que serve de sustentação para uma grande antena de transmissão, algo digno do poder de Chateaubriand, em 1960.