
e professora a ativista dos direitos humanos, Anielle Franco ganhou visibilidade e se tornou uma figura pública no pior momento de sua vida. A irmã, Marielle Franco, havia escolhido a carreira política e se tornado vereadora no Rio de Janeiro, mas teve sua caminhada brutalmente interrompida. Foi assassinada a tiros, em março de 2018. Mesmo atordoada com a perda familiar, Anielle se viu obrigada a tomar a frente da situação: blindou os pais e a sobrinha e passou a figurar em jornais e revistas com frequência, para defender o legado da irmã. A mais recente aparição foi para clamar contra a federalização da investigação da morte de sua irmã, pedido que acabou negado pelo STF (Supremo Tribunal Federal), no fim de maio, conforme pedia a família da vereadora. De tão envolvida com o ativismo, Anielle chegou a cogitar, ela também, concorrer a um cargo público, para ir ainda mais a fundo na preservação dos ideais de Marielle, mas a insegurança foi um fator determinante para desistir dos planos.
“Confesso que, no início, tinha muita gana, achava que, se eu entrasse, não digo vingar, que é muito forte, mas daria um cala a boca em quem fez isso com a minha irmã. Tinha isso na cabeça. Mas fui tirando essa ideia de lá, porque a gente não tem segurança nenhuma”, conta Anielle, a primeira a chegar ao local do crime de Marielle e quem teve que lidar com a dura tarefa de reconhecer o corpo da irmã no IML (Instituto Médico Legal).
Foi insegurança, sim, mas não só. Anielle também reconhece que a irmã “nasceu para aquilo”. Iluminava-se ao entrar no plenário e, mesmo sozinha, lutar pelos direitos daqueles que sempre defendeu, que eram, assim como ela, mulheres, negros, periféricos e praticamente invisíveis aos olhos do parlamento.
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“Não é a minha realidade. Estudei para ser professora, isso era mais eu. Política não era para mim, embora todo mundo fale: ‘você é super boa para isso’. Hoje, entendo que a Mari é um pouco maior do que a gente, do que definir minha luta em partido político, embora respeite”.
O caminho escolhido por Anielle, então, foi o de criar o Instituto Marielle Franco, para concentrar as demandas relacionadas à irmã. A iniciativa veio também de um sentimento que a professora tinha de fazer algo no âmbito da educação, especialmente no Complexo da Maré, onde as duas nasceram e foram criadas.
“Fui mandada embora de três escolas onde eu dava aula por ser irmã da Marielle. O salário de professor não é maravilhoso, você tem que dar aula em cinco, seis escolas. Perder três escolas é perder muito. Me avisaram: ‘sua imagem não dá para manter na nossa escola’. Então, pensei que daria um jeito e faria algo que eu goste. Ao me ver com tempo livre, e diante dessa necessidade de manter a memória e o legado dela, com essa sede de justiça, por carregar o nome dela, comecei a pensar e conversar com pessoas próximas sobre o instituto”, conta.